Como a inteligência emocional ajuda o MEI a prosperar nos negócios?
A pandemia da covid-19 intensificou uma preocupação que já vinha sendo debatida nos últimos anos: como a inteligência emocional afeta o meu dia a dia de trabalho?
A entrevista com o especialista desse mês vai responder essa questão voltada para a realidade dos MEI’s
Raiva. Medo. Insegurança. Em alguns, o batimento cardíaco muda. Em outros, a dor de cabeça aparece. Na maioria das pessoas, a concentração vai embora, e logo vemos que produtividade não será aquela que planejamos no início do dia. Na cabeça, surgem as dúvidas: “Será que pode ser ansiedade? Ou estou somente estressado? Quem sabe tudo isso não está conectado…”
Conseguir identificar suas emoções diante de uma situação de adversidade ou conflito nem sempre é fácil, mas muito pior é quando esses sentimentos influenciam nosso equilíbrio psicológico, relacionamentos e carreira profissional. Para os MEI’s, situação pode ser ainda mais delicada. Afinal, mais do que estar preparado no seu ramo de atuação, iniciar um empreendimento também demanda maturidade para lidar com crises financeiras, estratégias comerciais, burocracias, problemas com outros profissionais… a responsabilidade de fazer o negócio prosperar exige – e muito! – equilíbrio da saúde mental.
Diante isso, é preciso conhecer os hábitos e ferramentas que alteram nossa habilidade de lidar com as emoções – seja para o bem, seja para o mal. E quem vai nos ajudar nessa empreitada é a psicóloga Rosana Ribeiro, especialista em inteligência emocional, que conversou conosco sobre rotina, autoconhecimento e ajuda profissional.
Se uma pessoa pretende se regularizar como microempreendedor individual, como ela pode se autoavaliar para saber se está equilibrada emocionalmente para dar este passo tão importante?
A autoavaliação é fundamental. Primeiramente, a pessoa deve olhar para o seu histórico de vida. Quais são os comportamentos e atitudes diante de dúvidas e inseguranças? Refletir sobre isso é importante porque, hoje em dia, muito se fala muito sobre liderança. Mas isso vai além de um cargo ou de uma equipe. É uma questão de postura. E liderar a si mesmo, a sua própria vida, seu próprio destino, é uma habilidade emocional que os microemprededores individuais precisam desenvolver, pois eles lidam diretamente com crises do sistema econômico, por exemplo.
Dentro desse contexto de crise, é muito difícil não passar por momentos de estresse, desequilíbrio ou preocupação com algo relacionado ao seu negócio. Isso pode, inclusive, prejudicar outras esferas da vida da pessoa. Quais hábitos ou ferramentas podem minimizar essas tensões?
Ainda na linha do autoconhecimento, é importante saber quais são seus pontos fracos e pontos fortes. Assim, você consegue “mapear” as situações que estão sendo mais prejudiciais para resolvê-las de forma prioritária. E, a partir disso, também vai saber quais ferramentas buscar. Um problema de comunicação com clientes, por exemplo, pode ser resolvido com uma boa leitura sobre vendas, ou mesmo um curso, caso a pessoa tenha condições. Agora, durante a pandemia, muitas plataformas disponibilizaram aulas gratuitas e online. Já se o problema for relacionado a tempo ou organização, alguns aplicativos como calendários e bloco de notas também podem ajudar. Mas, quando falamos de hábitos que podem evitar ou minimizar essas situações de estresse, a prática de exercícios físicos é sempre uma ótima alternativa. Se você não está acostumado a fazer academia ou a praticar algum esporte, pode começar com algo simples, como uma caminhada. A alimentação saudável também é fundamental para o funcionamento do corpo, assim como uma boa noite de sono. Pra quem tem alguma crença ou religião, se conectar com a espiritualidade pode ser uma saída. Ou mesmo coisas mais simples, massagens ou mais momentos de lazer com a família. Tudo isso ajuda a diminuir a ansiedade, que pode até deixar de trazer medo e insegurança para virar uma energia positiva, concentrada nas coisas que nos fazem bem.
Mas vale lembrar que algumas pessoas passam por dificuldades que culminam em problemas mais sérios, que demandam psicoterapia ou até mesmo tratamento com medicamento, certo? Neste caso, é hora de buscar ajuda de um profissional?
Com certeza. Existem quadros que são doenças, como a depressão e o transtorno de ansiedade. Nestes casos, as ferramentas utilizadas são de ordem psiquiátrica. A pessoa passa por um diagnóstico e entra em um tratamento que envolve a psicoterapia. Inclusive com uso de medicamentos em alguns casos. Se você passa por um problema financeiro ou jurídico, não há vergonha para procurar a consultoria de um especialista. O mesmo vale na hora de procurar ajuda psicológica.
Por fim, vamos falar sobre a pandemia. Muitas pessoas se viram obrigadas a adotar o home office durante esse período. E, apesar de ter suas vantagens, esse processo abrupto, somado à quarentena, pode ser um tanto quanto nocivo à nossa mente. Existe alguma estratégia para fazer com que o trabalho remoto não influencie a inteligência emocional de maneira negativa?
A resposta vai na linha do que falamos sobre liderança e autogerenciamento. Primeiro, é preciso delimitar a questão de horário de trabalho. Pois como estamos dentro de casa, difícil conciliar essa questão com os momentos de lazer, de trabalhos domésticos. Isso sem falar da relação com outras pessoas da casa. Alguns familiares podem ter a dificuldade de entender que estamos ocupados. Por isso temos que conversar antes, deixar claro que nem sempre vamos poder ser solicitados. Tem pessoas que até colocam quadros e plaquinhas na porta da sala ou do escritório, dizendo que estão em reunião, por exemplo. Isso é importante principalmente para crianças, ou também caso você tenha funcionários trabalhando em sua casa. E outro ponto importante é sobre as refeições. Faça uma pausa para elas, mas tente não comer na mesa de trabalho. Isso ajuda a fazer essa separação entre trabalho e descanso, deixa a mente menos confusa quanto ao ambiente em que você está. Esse equilíbrio também ajuda na habilidade de lidar com as emoções.
Rosana Ribeiro é psicóloga desde 1997. Tem experiência com recursos humanos, desenvolvimento e gestão de pessoas e inteligência emocional.