Planejando um pequeno negócio como MEI
Na #EntrevistaComEspecialista desse mês, conversamos com Uranio Bonoldi, coach de carreiras
Ele deu dicas para quem quer começar a empreender, mas ainda não consegue se organizar e planejar os rumos de um pequeno negócio como MEI
Mais do que talento, desejo ou inspiração, a decisão de iniciar um empreendimento está ligada à necessidade. Afinal, estamos diante de um cenário de instabilidade econômica – e, consequentemente, vagas cada vez mais raras dentro do mercado de trabalho.
Por isso, para não dar um passo em falso ou maior do que a própria perna, o MEI precisa conhecer sua área de atuação. E, mais do que isso: precisa saber fazer um plano de negócios, tanto em relação às finanças como em relação às ferramentas adequadas para atrair clientes e divulgar suas marcas.
São muitos fatores envolvidos, não é mesmo? Mas, antes que você se assuste, nós trouxemos um bate-papo muito importante com o autor, professor e palestrante Uranio Bonoldi. Com mais de 30 anos de experiência em gestão de empresas nacionais e internacionais, ele praticamente deu uma aula sobre tomar decisões – não somente no mundo dos negócios, como também na vida pessoal.
Veja: 5 passos para você começar o seu negócio da forma certa
Confira como foi.
Empreender envolve estratégias e organização. Quais dicas você dá para quem tem dificuldade com estes pontos?
Questões intimamente ligadas, a estratégia deve ser vista como um plano para se atingir um objetivo estabelecido. Portanto, ao se estabelecer uma estratégia empresarial, temos que entender que antes, devemos ter claro qual o objetivo que pretendemos atingir. Sendo assim, não existe estratégia sem que haja um objetivo claro a ser atingido. Portanto, não importa o tamanho da empresa em questão, ela deve (representada pelo seus donos, controladores ou executivos), em primeiro lugar, identificar em que ponto de seu desenvolvimento está e aonde deseja chegar em um determinado horizonte de tempo. Entendendo onde se encontra e aonde deseja chegar, será fácil identificar as lacunas para se atingir o objetivo desejado. Para preencher essas lacunas, criamos o PLANO, – a ESTRATÉGIA a ser implementada e cumprida para se alcançar o objetivo proposto. Esse plano, deverá ser traduzido em metas, em ações táticas que deverão ser acompanhadas com muita organização e disciplina. Esta organização se materializa em elencar cada meta e ações táticas com os respectivos prazos de conclusão e seu monitoramento periódico, que pode ser diário, semanal ou mensal, dependendo do tipo de ação e sua urgência.
Em resumo:
- Entenda em que ponto do desenvolvimento sua empresa está (situação atual);
- Defina claramente a situação desejada, – projete o futuro desejado. Faça-se a pergunta: “Em que ponto desejo ver minha empresa daqui a “X” anos (objetivo);
- Identifique o que você precisa desenvolver (lacunas) para alcançar o objetivo, de acordo com a situação desejada;
- Estabeleça o caminho (estratégia/plano) a ser percorrido, descrevendo as metas a serem atingidas, bem como os programas a serem desenvolvidos, com datas para sua conclusão;
- Organize o monitoramento de cada atividade com disciplina e tenha resiliência (nem sempre tudo dá certo), – não controlamos tudo, portanto, fatores exógenos podem interferir nas metas e consequentemente no tempo de sua execução;
- Corrija metas e programas sempre que necessário, sem perder de vista a situação desejada.
Quais são os pontos-chave para fazer um negócio dar certo?
Talvez, muitos de vocês irão se surpreender com minha resposta. Os pontos-chave estão intimamente ligados a pensar, – refletir em profundidade se os propósitos de vida do empreendedor, estão ligados ao negócio que deseja empreender. Estamos falando de autoconhecimento e de valores! Exemplificando. Muitos empreendedores abrem um negócio porque “ouviram falar” que dá dinheiro, que o negócio é bom, que deu certo com fulano e cicrano e por aí vai. Supondo que esse negócio seja um quiosque de café em loja de shopping. Você não gosta de café, não tem afinidade nenhuma em ser barista e mais, fez um curso de barista e não se interessou lá muito pelo assunto. Qual seria o propósito em abrir uma loja de café? Ganhar dinheiro? Meio caminho andado para um grande fracasso.
Portanto, pontos-chave para fazer um negócio dar certo:
- O propósito do negócio deve ser claro e ter alinhamento com seu propósito de vida. Se você não sabe ainda o que fazer, pesquise, procure, vá a seminários, busque ir a eventos de toda ordem, leia artigos sobre negócios e, em algum momento, surgirá um caminho que lhe fará sentido seguir, – o famoso propósito!
- Não se deixe se levar por “paixões” sobre este ou aquele negócio que você só vê a superfície, o glamour. Haja com racionalidade e pesquise sobre qualquer negócio, em profundidade, – SEMPRE!
- Inove sempre! Não existe concorrente para uma empresa que está sempre inovando. Criando produtos novos, novos serviços, gerando novas experiências que os clientes jamais iriam pensar em ter. Percebem aqui como é importante a pessoa se identificar com o propósito do negócio (itens #1 e #2 anteriores). Se a pessoa se identifica com os valores e propósito do negócio, ela sempre vai dar um jeito de desenvolvê-lo, de fazer diferente e ser cada vez melhor, – ESTAR À FRENTE!
- Escute e anteveja a necessidade do cliente. Mas atenção! Nem sempre o cliente sabe exatamente o que deseja. Você tem que viver o negócio e/ou as necessidades do seu cliente e buscar antever o que ele gostaria de ter ou experimentar.
- Monitore os resultados do seu negocio e, principalmente o fluxo de caixa. Não esqueça da gestão operacional financeira.
- Tenha disciplina ao gerir seu negócio. Identifique seus pontos fortes e fracos. Naquilo que for fraco, busque um sócio com as competências necessárias mas que comungue dos mesmos valores, ou contrate quem faça melhor do que você naquilo que você não é bom ou busque as competências necessárias.
O microempreendedorismo tem crescido cada vez mais no Brasil! Quais estratégias de negócio podem ser aplicadas nessa categoria?
Não vejo que possa haver diferença nas estratégias entre microempreendedorismo e grandes negócios. Apenas as ferramentas e a escala são diferentes. Seja micro ou grande empreendedor, costumo dizer que devemos dar atenção ao “equilíbrio de todos os pratos”. Metáfora ao palhaço equilibrista que deixa vários pratos girando sobre uma haste que, vez por outra, para manter todos em equilíbrio ele corre de lá para cá, dando giro aos mesmos pelo fletir das hastes que os sustentam. Acho que esta imagem diz muito: Precisamos equilibrar todas as perspectivas de uma empresa como vendas, (clientes), pessoas (funcionários), operações (processos) e resultado (financeiro). É um equilibrar destas perspectivas, muito bem descritas pela metodologia do BSC – “Balanced Score Card”. Por fim, e não menos importante, saber se diferenciar da concorrência inovando sempre, – processo contínuo de inovação.
O que é um plano de negócios e como ele pode ser aplicado a microempresas?
Plano de negócios, como descrevi na primeira questão, pode ser entendido como o processo de se elaborar e estabelecer a estratégia do negócio e a forma pela qual ela pode ser alcançada. O plano de negócios pode ser aplicado a microempresas através de várias metodologias disponíveis em literaturas e implantadas com relativa facilidade. O mais importante: um programa de planejamento estratégico, ou plano de negócios deve sempre ser patrocinado pelo controlador do negócio, pelo dono do negócio e difundido por toda a empresa, – muito bem comunicado! Muitos de vocês podem se perguntar: Mas se a empresa só sou eu? Muito simples: Seja você o criador do planejamento de sua empresa de um só! Um só hoje. Que serão quantos no futuro? Qual seu plano? Qual é a sua situação desejada enquanto a sua empresa e você são um só? Lembra da pergunta que deve ser feita ao se elaborar um plano, – uma estratégia? “Em que ponto desejo ver minha empresa daqui a “X” anos (objetivo)?
Esta pergunta tem que ser respondida e só você tem a resposta.
Uranio Bonoldi é autor, palestrante e professor do curso de educação executiva sobre Poder e Tomada de Decisão na Fundação Dom Cabral. Graduado em Administração de Empresas (FGV), pós-graduado em Finanças (FGV) e MBA em Varejo (USP), ele possui mais de 30 anos de experiência executiva em cargos de alta gestão. Integrando sua jornada profissional a pesquisas e reflexões sobre liderança e processo de decision making.